Lula da Silva hospeda o Virtual BRICS Summit
Lula sediou a conferência, buscando alternativas às tarifas de Trump
Os líderes de alto escalão dos países do BRICS discutiram na segunda-feira de manhã como expandir os mecanismos comerciais entre as nações do bloco durante uma conferência múltipla organizada pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, em um movimento para combater o aumento da tarifa de Washington.
“A integração comercial e financeira entre nossos países oferece uma opção segura para mitigar os efeitos do protecionismo”, disse Lula em sua mensagem. Para Lula, o grupo de poderes no sul global tem “a legitimidade necessária para liderar a reflexão do sistema de negociação multilateral em bases modernas e flexíveis voltadas para nossas necessidades de desenvolvimento”.
Lula também citou o papel do novo Banco de Desenvolvimento (BRICS Bank) na diversificação de bases econômicas e complementaridades entre os países. “Juntos, representamos 40% do PIB global, 26% do comércio internacional e quase 50% da população mundial. Entre nós, são os principais exportadores de energia e consumidores. Temos as condições necessárias para promover a industrialização verde, que gera empregos e renda em nossos países, especialmente nos setores de alta tecnologia.
Para o presidente brasileiro, a crise de governança “não é uma questão temporária” e cabe ao BRICS mostrar que a cooperação “supera qualquer forma de rivalidade”.
“A Organização Mundial do Comércio (OMC) fica paralisada há anos. Em questão de semanas, medidas unilaterais tornaram os princípios básicos do livre comércio, como as cláusulas de tratamento nacional mais favoráveis e de tratamento nacional, sem sentido. Agora, estamos testemunhando as práticas comerciais formais desses princípios.
“A tarifa de chantagem está sendo normalizada como uma ferramenta para conquistar os mercados e interferir em questões domésticas. A imposição de medidas extraterritoriais ameaça nossas instituições. As sanções secundárias restringem nossa liberdade de fortalecer o comércio com países amigáveis. Dividir e conquistar é a estratégia do unilateralismo”, acrescentou.
Este ano, o Brasil detém a presidência do BRICS. No contexto de mudanças na geopolítica global, em vários fóruns internacionais desde o início de seu terceiro mandato, Lula tem defendido a reforma de instituições multilaterais de governança global, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) e a OMC.
“Precisamos chegar unidos à 14ª Conferência Ministerial da OMC no próximo ano em Camarões”, argumentou Lula, de acordo com um comunicado do Planalto Palace.
“A reunião também foi uma oportunidade de compartilhar opiniões sobre como abordar os riscos associados ao ressurgimento de medidas unilaterais, inclusive no comércio internacional e sobre como expandir os mecanismos de solidariedade, coordenação e comércio entre países do BRICS”, observou a presidência brasileira.
As tarifas da Casa Branca são uma tentativa de reverter a perda relativa de competitividade da economia dos EUA para a China nas últimas décadas. Especialistas consultados pela Agência Brasil acreditam que a medida do presidente Donald Trump também é uma chantagem política destinada aos países do BRICS, já que Washington vê esse grupo de poderes do hemisfério sul como uma ameaça para nós, hegemonia do mundo, principalmente devido à sua proposta de substituir o dólar no comércio.
A extraordinária reunião de segunda -feira ocorre dois meses após a cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, quando Trump ameaçou novamente os países alinhados com as políticas do bloco.
Enquanto isso, o presidente chinês Xi Jinping também falou sobre a criação da Iniciativa Global de Governança (GGI), um possível embrião para uma nova ordem mundial.
A proposta foi anunciada durante uma reunião no início deste mês, com a participação de 20 líderes de países não ocidentais, incluindo Vladimir Putin da Rússia e Narendra Modi, da Índia, também membros do BRICS.
Criado em 2009, o BRICS é composto pelo Brasil, Rússia, Índia e China – os países fundadores – a África Sul, que ingressou no bloco logo após sua criação em 2011, e a Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã, que foram admitidos em 2024.
Além disso, Lula abordou o “fracasso” global em resolver conflitos entre países, como a guerra na Ucrânia e o genocídio na faixa de Gaza. “Quando o princípio da igualdade soberana dos estados não é mais observado, a interferência nos assuntos internos se torna prática comum. A resolução pacífica de disputas dá lugar ao comportamento beligerante”, disse ele.
Na mesma linha, Lula se referiu à presença de submarinos e navios militares dos EUA no Caribe, na costa da Venezuela, sob o pretexto de combater o tráfico de drogas.
O governo dos EUA acusa o governo venezuelano de Nicolás de Maduro de liderar um cartel de tráfico de drogas. Maduro rejeita as acusações e diz que Washington está usando esse argumento para promover uma “mudança de regime” no país sul-americano rico em petróleo.
Para Lula, tanto o terrorismo quanto os desafios de segurança pública que muitos países enfrentam são fenômenos distintos e “não devem servir de desculpa para intervenções fora da lei”.
“Desde 1968, a América Latina e o Caribe optaram por se libertar de armas nucleares. Por quase 40 anos, somos uma zona de paz e cooperação. A presença das forças armadas do maior poder do mundo no Mar do Caribe é uma fonte de tensão incompatível com a vocação pacífica da região”, ele mencionou.
O presidente brasileiro também reiterou seu convite aos líderes para participar da 30ª Conferência das Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP30) em Belém em novembro próximo.
Lula também sugeriu a criação de um Conselho de Mudanças Climáticas da ONU para coordenar diferentes atores, processos e mecanismos que atualmente são “fragmentados”.
“O impacto do unilateralismo também é grave na esfera ambiental. Os países em desenvolvimento são os mais afetados pelas mudanças climáticas. O COP30 em Belém será um momento de verdade e ciência. Além de trabalhar para a descarbonização planejada da economia global, que podemos usar o trabalho fósseis para financiar a transição ecológica.
Os líderes do BRICS também trocaram opiniões em preparação para a 80ª Assembléia Geral das Nações Unidas em Nova York no final deste mês. Para Lula, será uma oportunidade para defender “um multilateralismo revigorado” e abordar a arquitetura multilateral na esfera digital.
“Sem a governança democrática, os projetos de dominação se concentraram em algumas empresas em alguns países se perpetuarão. Sem soberania digital, seremos vulneráveis à manipulação estrangeira. Isso não significa promover um ambiente de isolacionismo tecnológico, mas, em vez disso, promover a cooperação baseada em ecossistemas de base nacional, independentes e regulamentados”, disse ele.
Os líderes da China, Egito, Indonésia, Irã, Rússia, África do Sul, bem como o príncipe herdeiro dos Emirados Árabes Unidos, o ministro das Relações Exteriores da Índia e o vice -ministro das Relações Exteriores da Etiópia participaram da cúpula virtual de segunda -feira. (Fonte: Agencia Brasil)



